Inclusão fotográfica revela olhar do morador de rua sobre Piracicaba

30/6/2017 - Piracicaba - SP

da assessoria de imprensa da Prefeitura de Piracicaba

 

Para expressar o seu olhar sobre a cidade, nove pessoas em situação de rua, frequentadoras do Centro Pop (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para População em Situação de Rua), foram a campo por duas vezes no último mês para registrar, por meio de fotografias, diversos ângulos de Piracicaba e suas experiências nas ruas. Os locais observados foram o complexo turístico do Parque da Rua do Porto e a praça José Bonifácio. A atividade – que recebeu o nome de inclusão fotográfica - integra as oficinas de terapia ocupacional realizadas no serviço, que é ligado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social.

"Durante a oficina, nós fomos ao Museu da Água, por exemplo. Fomos a lugares em que eles ficam no entorno, mas que não frenquentam, não entram. É uma possibilidade de eles estarem se apropriando e conhecendo lugares novos", explica Marina Fracasse de Barros, terapeuta ocupacional responsável pela atividade. Após o registro das imagens, os participantes se reuniram para conversar sobre os motivos das escolhas feitas.

 

Sílvio Targino de Lima, que vive nas ruas há 23 anos, participou da atividade e registrou, entre outras coisas, os monumentos que estão na praça José Bonifácio. Para ele, esses são símbolos importantes da história de Piracicaba. Lima contou à equipe de reportagem do Centro de Comunicação Social da Prefeitura que o monumento, uma homenagem ao Soldado Constitucionalista, foi instalado na praça José Bonifácio em 1938 e retirado do local durante uma reforma, em 1980. Foi levado à praça do Cemitério da Saudade e só voltou ao local original por decisão do Superior Tribunal Federal, oito anos depois. "É importante conhecer a história e retratá-la também", disse.

Luiz Chaves, natural de São Paulo e que vive nas ruas de Piracicaba há 13 anos, a memória afetiva da Noiva da Colina se mistura com um gosto a realizar-se: Chaves fotografou um Fusquinha que leva crianças para passeios e é símbolo da praça José Bonifácio. Ter um carro desse modelo é seu sonho. Chaves frequenta o Centro Pop há quatro meses e afirma que nem se sente morador de rua. "Estou há 13 anos nas ruas, sempre fazendo bicos. Sou pedreiro e quero trabalhar. Quando consigo uma obra, fico um tempo tendo lugar para morar, mas quando ela termina, eu retorno às ruas porque não tenho condições de pagar uma pensão." Atualmente, além de frequentar o Centro Pop, Chaves dorme na Casa de Passagem.

B., que preferiu não se identificar, retratou o rio Piracicaba. "Tem o prédio lá no fundo, tem o Museu da Água, que é um prédio antigo e cultural da cidade, e eu achei interessante." Morando nas ruas desde 2011, B. corta cabelos e agora vai se profissionalizar, porque participará de curso ofertado no Centro de Artes e Ofícios (CAOF), outro serviço da Semdes.

Para Eliete Nunes, titular da secretaria, a atividade reflete o objetivo do serviço. "Por meio de ações diversas, o serviço trabalha para o resgate da dignidade destas pessoas como cidadãos portadores de direitos e para o reativamento de vínculos com a família, com o trabalho e com a sociedade de um modo geral".

CONCURSO - Além do resultado terapêutico, duas das fotos foram escolhidas para concorrer no concurso fotográfico 250 anos: Piracicaba Através das Lentes, promovido pela Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba), que reunirá imagens, feitas por fotógrafos amadores, que retratam atrativos turísticos, culturais, patrimônios históricos e do cotidiano da cidade. A intenção de participar do concurso, conforme explica Solange Spironello, assistente social e coordenadora do Centro Pop, é mostrar que uma pessoa em situação de rua é como qualquer outra pessoa, pode se socializar. "Elas não querem só viver de doação. Querem ter dignidade, ter acesso a documentos, a mercado de trabalho a cursos profissionalizantes", enfatiza.

CENTRO POP - O Centro Pop, que funciona das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira, é um serviço destinado às pessoas que utilizam as ruas como espaço de moradia e/ou sobrevivência. Funciona no sistema portas abertas, que significa que a pessoa em situação de rua pode chegar e utilizar. No local, os usuários podem fazer higiene pessoal, lavar roupas e fazer lanches, além de terem atendimento técnico de assistência social e terapia ocupacional.

Durante o atendimento com a assistência social, é buscada a origem da pessoa, se ela tem conflitos familiares, como é a dinâmica familiar. Tudo isso é feito para ver qual encaminhamento o Centro poderá fazer: a reinserção familiar, o encaminhamento ao mercado de trabalho, ao EJA (Educação para Jovens e Adultos) e a cursos profissionalizantes, como por exemplo os ofertados pelos Caofs (Centros de Artes e Ofícios). Além destes encaminhamentos, o Centro auxilia na retirada de documentos e no retorno à cidade de origem, para migrantes, por exemplo.

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