Palestra Reúne Dicas Para Comerciantes Tornarem Lojas Mais Inclusivas

23/8/2012 - Piracicaba - SP

da assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores de Piracicaba

Útil tanto para profissionais da área quanto para leigos no assunto, a palestra com o tema "Acessibilidade e Arquitetura", conduzida pela especialista Renata Mello, trouxe uma série de dicas importantes para quem deseja tornar um estabelecimento comercial mais inclusivo. A apresentação esclareceu os conceitos do desenho universal e mostrou os pontos que merecem mais atenção na montagem de uma loja.

O evento, ocorrido na noite desta quarta-feira (22) na sede da Acipi (Associação Comercial e Industrial de Piracicaba), integra a 7ª Semana da Acessibilidade e Inclusão, promovida pelo Fórum Municipal Permanente da Pessoa com Deficiência, de iniciativa do vereador André Bandeira (PSDB). A programação, que teve início na segunda-feira (20) e se estende até o próximo dia 31, terá nesta quinta-feira (23) a encenação do musical "Noturno Cadeirante", no Teatro Municipal "Dr. Losso Neto".

Em entrevista, Bandeira ressaltou que a atual edição da "Semana" repete os dois últimos anos, quando foram introduzidos eventos lúdicos à programação, como peças teatrais e o desfile de moda inclusiva no Shopping Piracicaba. "O objetivo é dar visibilidade e fazer as pessoas entenderem que acessibilidade não é só guia rebaixada, não é só o cadeirante; são também os cegos, os surdos, as gestantes, as pessoas acamadas, os idosos ––pois temos uma população idosa muito grande que, por consequência disso, tem a mobilidade, a audição e a visão reduzidas."

Segundo Bandeira, o Fórum Municipal Permanente da Pessoa com Deficiência, criado por dois decretos legislativos de 2006, tem, apesar do nome, o intuito de "incluir todas as pessoas que, de uma forma ou outra, estão excluídas da nossa sociedade". "É preciso conscientizar os dois lados: tanto a pessoa com deficiência ––de que ela tem que participar da sociedade–– quanto a nossa sociedade ––de que ela tem que abrir as portas e se preparar para receber a pessoa com deficiência.

Não é a pessoa com deficiência que tem que se adaptar à sociedade; é a sociedade que tem que se adaptar à pessoa com deficiência", afirmou o vereador.

DESENHO UNIVERSAL
Formada em 2002 em Arquitetura e Urbanismo pela Mackenzie, onde atualmente cursa o mestrado, a palestrante Renata Mello está desde 2000 envolvida em projetos voltados a contemplar o desenho universal. Há dois anos, ela criou uma rede social (o site www.desenhouniversal.com), em que o tema é debatido por estudantes, profissionais e internautas interessados na área.

O desenho universal foi desenvolvido pelo arquiteto norte-americano Ron Mace, em 1985, para atender a ex-combatentes que, por terem atuado em guerras, passaram a ter limitações em seus movimentos e, por isso, precisavam viver em moradias adaptadas às suas necessidades. Pelo conceito, a arquitetura é pensada de forma a usar espaços e objetos de forma ampla, levando em conta variações de medidas que interferem na dinâmica do espaço.

O desenho universal propõe sete princípios que devem ser obedecidos num projeto: uso equitativo; flexibilidade de uso ("É um dos itens que mais geram desafios, mas uma das grandes chaves da acessibilidade", segundo Renata); uso simples e intuitivo; informação perceptiva; tolerância ao erro; pouco esforço físico; e tamanho e espaço para aproximação e uso.

Aproveitando o fato de que a palestra foi realizada na sede da Acipi, Renata usou como exemplo da aplicação do desenho universal um projeto que fez para uma loja em Santo André (SP). A proposta abrangeu dez pontos: estacionamento, passeio público, circulação, mobiliário, sanitários, iluminação, sons, cheiros, cores e comunicação visual.

De forma resumida, o estacionamento respeitou as vagas mínimas a pessoas com deficiência e idosos previstas pela legislação e seguiu medidas adequadas para a locomoção de motorista e passageiros, além de ter sinalizações vertical e horizontal, estar localizado em área segura e estar articulado à rota acessível.

O passeio público contemplou a faixa de acesso ao imóvel, a faixa livre e a faixa de serviço. A circulação horizontal e vertical considerou o uso de corrimãos, sinalizações, escadas, rampas, elevadores, escadas rolantes e plataformas verticais. O mobiliário apresentou alternativas como balcão de duas alturas, móveis com cantos arredondados e provadores acessíveis, enquanto os sanitários foram totalmente adaptados, sem, no entanto, abrirem mão do bom gosto estético.

A iluminação evitou o efeito de ofuscamento e áreas de sombreamento, além de não criar reflexos indesejáveis. Sons e cheiros serviram para orientar espacialmente o cliente. Por fim, as cores facilitaram a identificação de setores, enquanto a comunicação visual buscou ser clara, legível e objetiva.

De acordo com Renata, um projeto que desde seu nascimento segue o desenho universal fica 1 por cento mais caro do que um que não o contempla. Já o projeto que, depois de executado, tiver que se adaptar ao conceito custará 25 por cento mais.

DR. HOUSE
O evento desta quarta-feira na sede da Acipi foi aberto por uma apresentação de Maurício Ribeiro, da Usina de Ideias. Ele interpretou o Dr. Gregory House, personagem do seriado norte-americano "House", exibido no Brasil pela Record e pelo canal pago Universal Channel.

Caracterizado tal qual o personagem (a semelhança podia ser constatada nas roupas, no cabelo grisalho e até no jeito manco de andar), Maurício fez uma reflexão bem-humorada na pele do médico "sério, mas não politicamente correto" da série, criticando a falta de conscientização de parte da população ante a necessidade de inclusão de indivíduos com necessidades especiais. Em tom irônico, ele propôs a pessoas com esse tipo de comportamento a realização da "Semana da Pessoa com Deficiência Moral", em alusão à Semana da Acessibilidade e Inclusão.

"Dr. House" lembrou a existência de indivíduos que, nos ônibus, "só sentam em bancos amarelos, independentemente de serem deficientes ou não". "O cara tem mil opções multicores, mas quer sentar no amarelo. Parece que aquele ícone de cadeirante o atrai." A crítica se estendeu a quem para em vagas reservadas a pessoas com deficiência e idosos. "Com tantas opções, gostam de estacionar onde não podem."

No final, Maurício enfatizou a importância do respeito e da inclusão. "Os heróis são aqueles que nos chamam a atenção para vencer desafios. Eles não são pessoas com deficiência moral." 

 

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