da assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores de Piracicaba
Porque há muito não se viam, Benedito e Maria Aparecida ––ele com um quadro na mão, ela com o marido e o casal de filhos atrás–– enfim tiveram a conversa que precisou esperar quase meio século para acontecer. O que disseram ou se esqueceram de dizer ––culpa da emoção pelo momento tão aguardado–– foi acompanhado atentamente pelas mais de 200 pessoas que lotaram o salão nobre da Câmara.
Ele mantendo-se firme, ela chorando, os dois reproduziram, quase sem querer, as expressões de 46 anos atrás. No Natal de 1966, Feijão ––como era conhecido o homem que naquele ano ingressara no Corpo de Bombeiros após deixar o Exército por causa da morte da mãe–– saiu para atender a uma mulher que estava para dar à luz. Ao ver que não haveria tempo de levá-la ao hospital, Benedito fez o parto no local, com o instrumento de que dispunha no momento. Ele com uma gilete, ela com o cordão umbilical cortado; ele forte como Rocha, ela nascendo no dia de Jesus.
Passadas mais de quatro décadas, Benedito Vieira da Rocha, 69 anos, e Maria Aparecida de Jesus Blanco, 45, se reencontraram na noite desta terça-feira (26), durante a reunião solene em comemoração aos 50 anos do primeiro grupo de Piracicaba a integrar o Batalhão da Guarda Presidencial, em Brasília. Resultado de uma longa apuração feita por Marcelo Oliveira, mestre de cerimônias da Câmara e ex-soldado do Tiro de Guerra, o abraço que reaproximou o herói e a mocinha daquele 25 de dezembro de 1966 levou às lágrimas dezenas de pessoas que assistiram à sessão, organizada pelo vereador João Manoel dos Santos (PTB). O momento ficou registrado na foto que ilustra esta matéria. Ele surpreso, ela emocionada. Eles sorrindo. BATALHÃO Além dele, outros 13 reservistas foram homenageados pela Câmara na cerimônia, que reuniu familiares, autoridades, aprendizes do Instituto Formar e soldados dos Tiros de Guerra de Piracicaba e Capivari. Foram agraciados com o diploma de reconhecimento de mérito os reservistas Amaral de Almeida Alves, Antonio de Pádua Gevartoscki, Benedito Vieira da Rocha, Djalma Jorge Carpanezzi, José Antonio de Souza Neto, José David Boldrin, José Maciel Neto, José Rosa de Oliveira Filho, João José Cera, Manoel Pedro Conceição, Mario Bortoleto, Nivaldo Francisco Sturion, Oriel Denardi e Pedro Luiz Schmidt. Após a entrega dos quadros, fez-se um minuto de silêncio em memória dos soldados falecidos. A solenidade também contou com a exibição de um vídeo com o histórico dos homenageados, produzido pelo Departamento de Comunicação da Câmara, e as execuções do hino nacional brasileiro, do hino de Piracicaba (ambos tocados pela banda do Instituto Formar), do hino do Batalhão da Guarda Presidencial e da Canção do Exército. AMIGOS Além de João Manoel, compuseram mesa o capitão Silas Romualdo, comandante da Guarda Civil Municipal, representando o prefeito Barjas Negri (PSDB); o subtenente Marcos Antônio Sábio, instrutor-chefe do Tiro de Guerra de Capivari; o coronel Silas Barela Sendin, ex-comandante do Corpo de Bombeiros de Piracicaba; e o tenente Alexandre Garcia Vieira, comandante dos postos do Corpo de Bombeiros de Piracicaba. O subtenente Marcos Antônio Sábio elogiou os reservistas por, ao voltarem à vida civil, terem colocado em prática o que aprenderam na caserna. "Não é porque um dia deixaram de ser soldados usando a farda é que deixaram de ser soldados: continuam lutando para fazer com que esse país cresça." O instrutor-chefe do Tiro de Guerra de Capivari afirmou que os homenageados são exemplos para os jovens que servem ao Exército hoje. "Quando os vemos relembrando uma passagem que faz 50 anos, isso é motivo de felicidade, por saber que os senhores venceram e conseguiram um local seguro. Uma vez infante, sempre infante; uma vez soldado, sempre soldado. Parabéns pela vitória que conquistaram!" Já o capitão Silas Romualdo fez um balanço das participações de soldados do município em momentos importantes do país. "Piracicaba sempre se fez presente nos grandes momentos da história da nação. Daqui, saíram um grupo para participar da Revolução Constitucionalista de 1932, o primeiro presidente civil do Brasil e um grupo que participou da Segunda Guerra Mundial, formando nossa FEB [Força Expedicionária Brasileira]. Quando se inaugura Brasília, logo a seguir sai um grupo que vai servir no 1º Batalhão da Guarda Presidencial e mostrar o valor do povo piracicabano." O coronel da reserva Silas Barela Sendin falou sobre a satisfação de participar da cerimônia. "Sinto-me homenageado como bombeiro, embora há algum tempo aposentado, pois tivemos a satisfação de conviver juntos em Piracicaba." O comandante do Corpo de Bombeiros de Piracicaba na época em que Benedito Vieira da Rocha fez, com uma gilete, o parto que trouxe ao mundo Maria Aparecida de Jesus Blanco, elogiou a postura do amigo. "A atitude dele de fazer um parto, hoje, no Corpo de Bombeiros, é bastante comum: todo soldado está preparado e tem treinamento, além do "kit parto" que há na viatura. N&
Nascido em Tietê (SP), em 22 de abril de 1943, Benedito foi um dos 114 soldados do Tiro de Guerra de Piracicaba que se alistaram em 1962 convocados a fazer parte do batalhão.
João Manoel destacou o pioneirismo de Piracicaba em ceder soldados para ações do Exército Brasileiro. "São homens valentes, que dão a vida para verem os outros viverem bem. Resgatar a história é uma coisa que faz muito bem; marcar a história, também." O presidente da Câmara lembrou que a solenidade constitui uma oportunidade de reunir novamente, após cinco décadas, os componentes do 1º Batalhão da Guarda Presidencial. "É muito bom quando você patrocina momentos felizes na vida de alguém. O que vale na vida é, depois de 50 anos, se encontrar da maneira como vocês estão se reencontrando hoje", disse o vereador aos homenageados.