O racismo decorre de questões econômicas, diz historiador

29/5/2013 - Piracicaba - SP

da assessoria de imprensa da Câmara de Vereadores de Piracicaba

As diversas maneiras de “justificar” suposta inferioridade laboral e intelectual dos negros – se por dogmas religiosos ou valores culturais e até mesmo a partir de suposições “científicas” – servem com o propósito de legitimar um sistema mercantilista que, historicamente, se apropriou (ou se desfez) desta população, no que é considerado entre os maiores crimes de lesa-humanidade: a escravidão.

“O racismo é decorrência da situação econômica”, disse Ramatis Jacino, professor da rede pública, mestre em História Econômica pela USP, que na noite desta terça-feira, 28, ministrou a palestra “O negro e o mercado de trabalho”, no salão nobre “Helly de Campos Melges”, da Câmara de Vereadores de Piracicaba.

Amparado com diversas referências bibliográficas e dados estatísticos da situação do afro-brasileiro, pré e pós-abolição, entre metade e final do Século XIX, Jacino discorreu de maneira profunda sobre como olhar preconceituoso da sociedade dominante européia – “importada” ao Brasil pela colonização – serviu para impedir o acesso dos negros no mercado de trabalho, desenvolvendo a exclusão social como um problema de raízes sólidas no País, com interferências até os dias atuais.

O diagnóstico apresentado por Ramasti Jacino toma por base sobretudo a influencia da intelectualidade brasileira. Cita, por exemplo, estudo de Celso Furtado – referência no estudo da Economia brasileira – quando o autor de “A Formação Econômica do Brasil” define o negro como “dado ao ócio” para legitimar a dificuldade de ascensão da população afro-descendente no mercado de trabalho.

“Todos nós, negros, já fomos discriminados pela polícia ou no mercado de trabalho, agora um intelectual como Celso Furtado fazer esta afirmação é mais grave porque ele tem autoridade, porque o delegado que vai atender a população estudou seus livros na Faculdade de Direito, assim como o dono da empresa, ou o especialista em Recursos Humanos, também o tem como referência de pensamento”, analisa Jacino, presidente do Instituto Sindical Interamericano pela Igualdade Racial (Inspir).

Em pouco mais de uma hora de palestra, Ramatis Jacino demonstrou as diversas transformações do negro no mercado de trabalho, desde a escravidão, passando pelo processo de “libertação” (como as leis do Ventre Livre e do Sexagenário), a qual vê como uma maneira do patrão “eliminar encargos”, passando também pela política que favoreceu o imigrante europeu em detrimento do afro-brasileiro que, a partir de 1888, passou a não servir mais como mão-de-obra para o sistema da época.

Entre alguns dados apresentados na palestra está a diversidade do trabalho do negro, tanto livre quanto escravo, exercida entre o final do Século XIX e começo do Século XX. Diferente do mito de que só exerciam trabalho braçais, como em metalurgias e agricultura, também é possível ver registros de negros como comerciantes, religiosos, cirurgiões, professores, assim como parteiras, atividade bastante comum exercidas por mulheres negras.
A palestra “O negro e o mercado de trabalho” foi de autoria do vereador José Antonio Fernandes Paiva (PT), que durante o mês de maio, por conta do 13 de Maio – dia de assinatura da Lei Áurea –, desenvolveu diversas atividades, como palestras a respeito da nova lei das domésticas. “Esta palestra sobre o mercado de trabalho fecha um ciclo que aconteceu durante todo este mês”, disse Paiva.
 
Cerca de 150 pessoas participaram da palestra, boa parte deles professores da rede pública de ensino, e o evento contou ainda com a participação de Maria Araújo (do Coletivo de Combate ao Racismo da CUT), Ronaldo Almeida (assessor do deputado estadual Gerson Bittencourt), Acácio Godoy (da Casa do Hip Hop), Adney Araújo (presidente do Conepir), João Antonio Gambaro (representante da Diretoria de Ensino) e Ismael Jesus de Lima (diretor do Sindicato dos Bancários).

 

 

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