Autor: Ítalo Lima
Te escrevo esta carta pra dizer
Que os meus dias andam
Um tanto um pouco solitários
Que os momentos festivos escorreram
Pelas mãos nas horas fartas
Escrevo pra te dizer da minha falta de coragem
Ou do meu medo de assumir ao mundo
O meu desejo vivo e intenso por você
Te escrevo porque grito e calo num só instante
E a vizinhança não mais suporta o meu desespero
Te escrevo porque sinto frio e tremo
O carteiro já não sabe mais meu endereço
E a novo posição dos anfíbios vai modificar
As profecias dos versículos praguejados
Por teus lábios em voz rouca
Nas missas dominicais de novembro
Meus pés involuntários afagam um ao outro
Na incerteza de ensaiar passos largos
O barulho de pele aquecida não antecipa o teu retorno
Te escrevo porque minha casa é uma eterna porta aberta
Na parede de reboco há resquícios de nós dois
O chão encerado há sussurros e suores do nosso enlace torto
Meu peito despovoado de ti anuncia minha solidão
A aglomeração da espera prevalece em mim em desespero
Te escrevo porque estou em pedaços
Os mil cacos espalhados por toda casa apodrecem amiúde
Minha sede ambígua amanhece depois
Te escrevo porque dói saber que não fui porto
E meus pés cansados não me sustentam mais
Te escrevo porque esqueço que você já me fez sangrar
E os meus ais era motivo de coro no coral não ensaiado do meu coração
Escrevo esta carta endereçada a mim porque eu sei
Que não é o fim, que nada importa as feridas da partida
Se um dia você voltar de novo, eu te acolho.
Aqui, o meu abraço a mim. Até logo!
(Ítalo Lima)